Quando chegar na Churrascaria Palace, em Copacabana, não pergunte pelo Antônio Bernardo, ou poderá receber uma negativa como resposta. Mas se procurar pelo Índio e quiser provar a costela bovina que ele mesmo prepara, será preciso entrar na fila, pois fãs não lhe faltam. Com 15.198 votos — dos 22.904 registrados na região —, ele vai comemorar o Dia do Garçom, no domingo, como “o melhor da Zona Sul”, em eleição realizada pelos Jornais de Bairro, após ser indicado pelo compositor Moacyr Luz.
— Adoro a imitação que ele faz dos artistas e quando finge estar chorando de emoção ao servir. É uma figura — justifica o sambista, feliz com a vitória do amigo.
Na lista de personalidades imitadas pelo garçom, estão Cid Moreira e Seu Jorge. Segundo ele, ambos autorizaram a performance.
Aos 43 anos, Índio trabalha na Palace há quatro, e lá tem status de celebridade. Da entrada até uma mesa localizada num cantinho ao fundo, ele é aclamado. “Já havia perguntado por você” e “que bom te ver” são alguns dos comentários dos clientes. Não satisfeitos em cumprimentá-los, alguns também querem registrar o encontro com fotos.
— Quando a eleição começou, cada vez que alguém me elogiava eu pedia para votar. E também mobilizei os amigos e familiares no Rio, Ceará, Piauí, Maranhão e São Paulo. Acho que funcionou — orgulha-se. — Fiquei feliz, mas surpreso com tantos votos.
O sorriso no rosto e o evidente prazer em exercer sua função entregam: ele é fora do comum e, realista, não esconde a falta de modéstia.
— Esses talheres podem atrapalhar o show, mas vou usá-los — critica ele, antes de servir a costela ao molho barbecue, outra especialidade sua.
Diretor da churrascaria, Antonio Miranda acredita que o atendimento descontraído privilegiado pela Palace se encaixou no perfil do garçom:
— Ele brilhou ainda mais na sua arte e se tornou um símbolo do nosso serviço.
Agradar ao cliente é sua principal preocupação. Índio garante que o bom atendimento é fundamental, por isso busca entender a necessidade de cada mesa para que suas brincadeiras não sejam mal interpretadas. Convidado anteriormente para ocupar um cargo de chefia, negou:
— Meu prazer é servir e estar em contato com as pessoas.
Índio folga às terças, mas isso não é sinônimo de descanso. Morador da Vila do João, na Zona Norte, ele aproveita os dias em que está em casa para paparicar a mulher, Beatriz, com quem está casado há 16 anos.
— Deixo tudo pronto. Quando ela chega do trabalho, basta se sentar na mesa para jantar — conta ele, que adora cozinhar.
Mas não é apenas a mulher que recebe agrados. Pai de Henrique, de 13 anos, e Kevin, de 4, ele conta que ajudava nos banhos e nas trocas de fraldas, admite ser coruja e, na semana do Dia dos Pais, fala com brilho nos olhos sobre os meninos:
— Meus filhos são minhas preciosidades. Não me dão trabalho, só alegrias.
Segundo o mais velho, o bom humor do pai não se restringe ao local de trabalho. Nos momentos familiares, ele mantém a alegria.
— Meu irmão gosta de pular em cima dele quando está deitado e meu pai sempre brinca com ele, mesmo que esteja cansado — conta Henrique.
Índio considera ainda como filha a sobrinha Beatriz Dayane, de 15 anos. Eles moraram na mesma casa durante três anos, e o garçom cuidava da menina enquanto a mãe dela trabalhava. Criada longe do pai, é em Índio que a jovem tem a figura paterna.
A experiência com crianças ainda ajuda no trabalho. Filho de um cliente da Palace, o menino de Eric não comia carne, até que cruzou com Índio e não resistiu à tática de um pai que entende do mundo infantil.
— Eu disse que era a carne do Ben 10 e ele comeu na hora — recorda-se.